
O Pontão de Cultura Pátria Grande continua com esse artigo uma série alusiva ao mês Internacional das Mulheres e na data de hoje nos somamos às incontáveis manifestações por todos os cantos do Brasil em memória de Marielle Franco, mas também recordando outras companheiras, camaradas, que tombaram na luta por justiça, igualdade, liberdade e pelo bem comum em nossa América Latina e Caribe, como Margarida Alves, Dorothy Stang, Soledad Barret, Irmãs Mirabal, Sanité Bélair, dentre tantas outras igualmente conhecidas e anônimas.
Revisitar sempre nossa memória, buscar estes registros, identificar essas personagens e os contextos nos quais viveram, lutaram e foram assassinadas é uma deferência às suas próprias trajetórias, mas igualmente nos ajuda a identificar e sedimentar nas nossas mentes e nos nossos corações pelo que e contra o que nós nos pomos em movimento como mulheres de distintas raças, etnias, orientações sexuais e gerações. O motivo pelo qual essas mulheres e nós lutamos já assinalamos acima. Mas, contra o que lutamos? O sistema capitalista-colonial-patriarcal que limita e violenta com maior agudeza nós mulheres!
Muito adequadamente a socióloga, professora e feminista argentina María Lugones afirmou que “o capitalismo eurocênctrico global é heterossexual… que essa heterossexualidade tem sido coerente e duramente perversa, violenta, degradante, e sempre funcionou como ferramenta de conversão de pessoas “não-brancas” em animais e de mulheres brancas em reprodutoras da raça (branca) e da classe (burguesa).
De modo semelhante, a socióloga marxista e professora Heleieth Saffioti assinalava que “a sociedade não comporta uma única contradição. Há três fundamentais, que devem ser consideradas: a de gênero, a de raça/etnia e a de classe. Com efeito, ao longo da história do patriarcado, este foi se fundindo com o racismo e, posteriormente, com o capitalismo, regime no qual desabrocham, na sua plenitude, as classes sociais”.
No capitalismo as mulheres desempenham, pois, um papel central na lógica da reprodução material e simbólica do sistema, exercendo funções relacionadas ao cuidado, ao zelo do núcleo familiar, em fornecer as condições subjetivas e objetivas para que o trabalho produtivo, público e valorizado dos homens ocorra.
Ah, alguém há de dizer: - Mas as mulheres hoje estão trabalhando fora e ocupando espaços de poder, portanto essa tese não mais se sustenta! Então nós temos de lembrar a estes desavisados e desavisadas que na entrada das mulheres no mercado de trabalho elas permanecem quantitativa e qualitativamente falando abaixo dos homens, salvo raros pontos fora da curva. Discriminações, preconceitos e violências outras não deixaram de ser regra.
Acrescentamos que se olharmos para o espaço doméstico, na maioria das vezes observaremos que ou essa mulher que, no palavreado liberal, “se empoderou” continua assumindo ainda a maior parte dos trabalhos privados e reprodutivos ou passou a terceirizar esse trabalho invisível e desvalorizado, majoritariamente mal remunerado e precarizado para uma outra mulher, geralmente preta ou parda, de menor escolaridade e pobre.
O legado de Marielle Franco, de outras que vieram antes e outras que já sucumbiram depois dela reside em nos lembrar de onde viemos, onde e como estamos e onde queremos chegar. Essas mulheres, assim como Olga Benário Prestes e Rosa Luxemburgo lutaram contra Estados totalitários, ditaduras e os poderosos economicamente desse planeta.
O Pontão de Cultura Pátria Grande como um espaço de luta anticapitalista, anticolonial e antipatriarcal afirma seu compromisso de ombrear com todas as mulheres que lutam por justiça, igualdade e liberdade e presta especial reverência as camaradas feministas que não desconectam a luta das mulheres da luta contra a ordem do capital, tampouco da luta antirracista.
Mulheres trabalhadoras latino-americanas e de todo o mundo. Uni-vos!!!
Por: Christiane Ribeiro (Coordenadora do Pontão de Cultura Pátria Grande e Lorena Cardoso e Thais Berdine (Agentes Cultura Viva).
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